Tanto a auditoria governamental quanto a auditoria empresarial privada estão sofrendo adequações em seus processos e operações, já que esse é um setor que não pode parar.
Auditores são peças fundamentais nesse momento de pandemia, e continuarão sendo no pós-pandemia, justamente por serem profissionais com a função de verificar se as normas contábeis, legais, orçamentais e o planejamento estão sendo seguidos de maneira efetiva, e, assim, descobrir eventuais oportunismos.
Por isso, conversamos com o Prof. Me. Róbison Gonçalves de Castro, coordenador da Pós Semipresencial em Auditoria Governamental, para que possamos entender os desafios da área de auditoria diante da Covid-19. Confira:
Como está sendo a adaptação da área de auditoria diante da pandemia de Covid-19 para trabalho a distância?
Prof. Róbison Gonçalves – Como todas as áreas de trabalho, a área de auditoria teve que enfrentar essa nova realidade. Felizmente, hoje em dia, existem muitas ferramentas de tecnologia da informação para auxiliar o trabalho de auditoria, e boa parte da documentação de empresas e áreas do governo já é toda eletrônica, o que permite que o trabalho seja feito de forma remota. Isso cria algumas dificuldades no sentido de validação, mas elas não são insuperáveis.
E quando a auditoria tem que trabalhar com documentos físicos?
Prof. Róbison Gonçalves – O problema é quando você tem que fazer auditoria de documentos físicos, porque, além da questão do deslocamento e do contato pessoal, tem a questão de que os documentos podem estar contaminados, já que foram manuseados por algumas pessoas, e o vírus sobrevive no papel por algum tempo.
Porém, utilizando os protocolos adequados de higienização das mãos e a utilização de máscara e distanciamento, é possível realizar o trabalho sem riscos maiores.
Agora, todas essas medidas de prevenção devem ser utilizadas no trabalho, e esse fato, com certeza, torna a atividade mais difícil e mais lenta. Então, o resultado é que há uma grande perda de eficiência quando a auditoria tem que ser feita em documentação física.
No que tange à auditoria de programas governamentais, esse trabalho está bastante defasado, porque demanda viagens, equipes, muita visita in loco e muitas entrevistas, e isso está sendo feito com muito cuidado ou, em alguns casos, foi simplesmente adiado mesmo, para quando a situação da pandemia passar.
Ou seja, como em todas as áreas, houve problemas, alguns trabalhos continuam sendo possíveis, outros estão sendo feitos de forma mais lenta e mais cautelosa, e outros simplesmente não há como fazer no momento.
Nesse cenário, qual é a importância da tecnologia e das diversas ferramentas?
Prof. Róbison Gonçalves – Tecnologia passou a ser fundamental. Em particular, a tecnologia de documentação eletrônica, de gerenciamento de documentação eletrônica, a nota fiscal eletrônica, o contrato eletrônico, as assinaturas eletrônicas etc. passaram a ser fundamentais para que a atividade de auditoria fosse viável.
Nós, da área da auditoria, sempre dizemos: antes de você fazer uma boa auditoria, é importante transformar a organização que você auditar numa organização auditável. Isso significa organizar essa empresa em relação a controles, documentação e processos, para que você possa fazer uma auditoria de qualidade. Em empresas muito desorganizadas, o que você vai conseguir saber é que ela é tão desorganizada que a auditoria não vai conseguir chegar a grandes conclusões, e isso precisa ser arrumado primeiro.
Nesse momento da pandemia, o que acontece é que você tem que organizar e estruturar as organizações para serem auditáveis eletrônica e remotamente. Por isso, todas essas tecnologias mencionadas, somadas às ferramentas de auditoria e de cruzamento de dados, mesmo ferramentas de inteligência artificial, passam a ser essenciais, principalmente quando você vai trabalhar com um grande volume de dados.
Quais são os maiores desafios da auditoria diante da pandemia de Covid-19?
Prof. Róbison Gonçalves – Bom, como eu já falei anteriormente, os maiores desafios são:
• Deslocamento das equipes, principalmente se você tiver que fazer isso em viagens aéreas, porque, hoje, o deslocamento aéreo envolve riscos. Portanto, aeroportos são locais a ser evitados por causa do risco de contaminação. Se isso envolve outros países então, fica muito complicado, porque nem sempre vai ser possível.
• Outra dificuldade é a realização de reuniões, mas isso pode ser superado com as ferramentas de reunião virtual, e, hoje em dia, existem muitas disponíveis, inclusive gratuitamente. Houve um aceleramento, incluindo o grande surgimento do Zoom, do Microsoft Teams Meeting, do Google Meeting e várias outras. Há, porém, certa perda das reuniões presenciais, em que você tem um certo grau de sigilo e de intimidade, que você não tem na reunião a distância.
Então, toda atividade que é presencial e que envolve o manuseio de documentos em papel se torna um desafio e uma dificuldade a ser enfrentada nesse momento de pandemia.
E olhando para o futuro, na sua visão, quais serão os maiores desafios da auditoria no pós-pandemia?
Prof. Róbison Gonçalves – Eu penso que surgem dois desafios:
O primeiro vai ser verificar todos os atos de corrupção e de desvios de recursos e desvios contábeis cometidos por pessoas desonestas, tanto dentro do governo quanto das empresas privadas. Aproveitando esse momento confuso, tenso e de reorganização, muitas pessoas estão aproveitando para roubar, para se dar bem durante a pandemia.
No setor público brasileiro, essa corrupção já é grande. Nesse momento, ela está maior ainda. A polícia federal tem feito algum trabalho nesse sentido, e em todos os lugares que eles batem parece ter desvio de dinheiro, problemas com licitações, sobrepreço, desvio de recursos, contratos esquisitos, leis que estão sendo desobedecidas. No setor privado não é diferente, só não é tão público porque não é tão divulgado, uma vez que as empresas evitam que isso venha a público.
O segundo é reforçar o suporte tecnológico para a atividade de auditoria e para a documentação dentro das organizações. Nisso, surge a importância de ter bons profissionais de gerenciamento eletrônico de documentos e de arquivos, ou seja, que saibam utilizar a tecnologia da informação.